celine
Não andam faunos nos bosques do meu outono
segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
FELIZ NATAL
(Foto: celine)
"Sob um céu de Verão alentejano, azul candente, radiando oftalmias em cada corda solar zimbrada de alto, este sinistro casarão vedado ao burburinho da rua por muralhas, descendo a rua aos tropos-galhopos, em socalcos internos, expansões, retraimentos, avoca efectivamente estampas de cidades marroquinas, se não fora a ausência de certos detalhes clássicos daquelas... uma palmeira no fundo e um minarete, camelos por debaixo de um arco, e o inevitável árabe no primeiro plano, rebuçado fleumaticamente num albornós."
(Excerto de "O Menino Jesus do Paraíso", de Fialho de Almeida in As Mais belas Histórias Portuguesas de Natal, escolhidas por Vasco Graça Moura).
segunda-feira, 7 de outubro de 2024
Cinzas
07/10/2024
(Foto e edição de imagem: celine)
"(...)
Tu mar!, também a ti me rendo - adivinho o teu sentido,
Da praia observo os teus dedos curvos e convidativos,
Creio que te recusas a regressar sem me teres em ti,
Devemos estar juntos algum tempo, dispo-me, leva-me depressa para longe da terra,
Aconchega-me suavemente, embala-me na tua sonolenta ondulação,
Bate-me com a tua amorosa água, posso retribuir-te.
Mar de grandes vagas espraiadas,
Mar de ampla e convulsiva respiração,
Mar do sal da vida e dos túmulos por cavar mas sempre abertos,
Mar que brames e esculpes as tempestades, mar caprichoso e sublime
Fundo-me contigo, também sou de uma e de todas as fases.
Participante do fluxo e do refluxo sou, exalto o ódio e a reconciliação,
Glorifico os amantes e os que abraçados dormem.
(...)"
(Walt Whitman, Canto de Mim Mesmo)
domingo, 6 de outubro de 2024
Centenário de Nascimento
07/10/1924 * 07/10/2024
(Edição e montagem de imagem: celine)
De pontas polidas, um tira-linhas desenhou -
pelos traços cursivos dos dias – a rectilínea da tua vida -
num alçado simples, com adornos de alegria,
relevos de tristeza – sem pretensões;
mas nem por isso
menos talhada, menos fendida,
que pela singularidade de uma vida humana.
(E as palavras necessárias,
pedras cravadas nesta estéril pena!...)
Obedecendo à forma da mãe
em flores coroada, barrando os caminhos;
mas os ramos sanificados pela esposa colhidos.
Num sopro de vida à terra-mãe lançado,
por uma mirada invertida,
moldaste uma cefeida fora do universo.
(E as palavras necessárias, pedras
embotadas nesta estéril pena!...)
De negra tinta-da-china mancharam-se os últimos anos…
À escala de um compasso torcido,
em esquadrejada crispação do andante,
sulcaram-se penosos momentos,
cotas de angústia, pelo estilete do fado…
E renascia a criança desligada do corpo
que inexoravelmente a subvertia.
(E as palavras necessárias,
pedras obtusas nesta estéril pena!...)
Na talha dos dias derradeiros,
sob a gárgula das lágrimas, da desesperança,
à espera, sempre à espera,
da cefeida regressada de arquétipos jazentes,
para o cenário da ruína da vida,
que é a morte.
Hoje, na aguarela verde e azul em que mareia
o teu antolhado barril, eu vejo fundear
as jubilosas cinzas do que foste.
(“Bate-me com a tua amorosa água, posso retribuir-te.
Mar do sal da vida e dos túmulos por cavar mas sempre abertos,”) *
Na lonjura do esquadro céu terra mar,
é, de ora em diante, na incomensurável espuma quântica
que flutua sempiterna a memória de ti (Pai).
*Walt Whitman, Canto de Mim Mesmo
quinta-feira, 20 de junho de 2024
SOLSTÍCIO DE VERÃO III
(Foto: celine)
"Casámo-nos as duas num Verão - querida -
Tua Visão - em Junho -
E quando a curta Vida Te falhava,
Também - eu me cansava com - a minha -
E ultrapassada pela Escuridão -
Onde me abandonas Tu -
Também - eu - recebi o Sinal -
Por Alguém que levava uma Luz -
Sim - Diferentes o teu Futuro e o meu -
A tua Casa - olhava para o sol -
E rodeando a minha - a toda a volta -
Só o Norte e Oceanos - nada mais
Sim, o Teu Jardim, o primeiro a Florir,
Enquanto o meu - de Orvalho - costurado -
Porém, um Verão, fomos ambas Rainhas -
Mas Tu - em Junho foste coroada -"
(Emily Dickinson in Duzentos Poemas)
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