quinta-feira, 19 de outubro de 2017

(Foto: celine
Samsung Galaxy S5)
 
A PRIMEIRA CHUVA
(no rescaldo do verão incendiário)  
 

Abençoada sejas, água dos céus!
Só pecas por tardia.
Agora, só arrefeces cinzas...
restos de morte humana,
carvão de misérias da vontade política.
Porque te fizeste rogada, qual amante caprichosa?
Porque desprezaste o fogo que se acendia
nas gargantas sequiosas das terras;
que atearam línguas de fúria a devorarem
gentes e casas, enfarruscadas
na aflição da humanidade?
Porquê, ó fonte da vida,
cedeste tu às fossas da morte?
Nem as trovoadas do desespero das gentes
relampejaram as tuas gotas ácidas,
a queimar a tristeza de outras gotas de sal!
Essas vociferações de Júpiter, agora,
afogam-se por tardias...
só esfriam vergonhosas cinzas,
só envenenam gargantas secas,
desbotam-se na vaidade política...

e respingam, sob as botas lamacentas dos homens!

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