terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

DE ONDE VEM A COR? (VII)

(Foto: celine)


"As grandes searas
sacudirão a crina,
a luz de setembro
tombará dos olmos,
a espuma do vinho
extinguir-se-á
como lume breve - 

só então a neve..."

(Eugénio de Andrade, "Antes da Neve" in Ostinato Rigore)





 

domingo, 21 de fevereiro de 2021

(Foto: celine)


"I cried when the moon was murmuring to the birds:
'Let peewit call and curlew cry when they will,
I long for your merry and tender and pitiful words,
For the roads are unending, and there is no place to my mind. '
The honey-pale moon lay low on the sleepy hill,
And I fell asleep upon lonely Echtge of streams.
No boughs have withered because of the wintry wind;
The boughs have withered because I have told them my dreams.

I know of the leafy paths that the witches take
Who came with their crowns of pearl and their spindles of wool,
And their secret smile, out of the depths of the lake;
I know where a dim moon drifts, where the Danaan kind
Wind and unwind their dances when the light grows cool
On the island lawns, their feet where the pale foam gleams.
No boughs have withered because of the wintry wind;
The boughs have withered because I have told them my dreams.

I know of the sleepy contry, where swans fly round
Coupled with golden chains, and sing as they fly.
A king and a queen are wandering there, and the sound
Has made them so happy and hopeless, so deaf and so blind
With wisdom, they wander till all the years had gone by;
I know, and the curlew and peewit on Echtge of streams.
No boughs have withered because of the wintry wind;
The boughs have withered because I have told them my dreams."

(William Buttler Yeats, "The Withering of the Boughs" in Os Pássaros Brancos e outros poemas)



 

 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

 DE ONDE VEM A COR? (VI)

(Foto: celine)

"Ligeira sobre o dia
ao som dos jogos,
desliza com o vento
num encantado gozo.

Pelas praias do ar
difunde-se em prodígios.
Tudo é acaso leve,
tudo é prodígio simples.

Pequena e magnífica
no seu amor volante
propaga sem destino
surpresas e carícias.

Pátria, só a do vento
de tão subtil e viva.
Azul, sempre azul
em completa alegria."

(António Ramos Rosa, "Mediadora do Vento" in Antologia Poética)


(Foto: celine)

"NEVER GIVE ALL THE HEART, for love
Will hardly seem worth thinking of
To passinate women if it seem
Certain, and they never dream
That it fades out from kiss to kiss;
For everything that´s lovely is
But a brief, dreamy, kind of delight,
O never give the heart outright,
For they, for all smooth lips can say,
Have given their hearts up to the play.
And who could play it well enough
If deaf and dumb and blind with love?
He that made this knows all the cost,
For he gave all his heart and lost."

(William Buttler Yeats in Os Pássaros Brancos e Outros Poemas)

 

sábado, 13 de fevereiro de 2021

(Foto: celine)

"Num ponto qualquer 
sensualmente subtil
algo que antes não servia para nada
irradia agora habitada surpresa."

(António Ramos Rosa, "Dinâmica Subtil" in Antologia Poética)

 

 

(Jardim Mahatma Gandhi - Lisboa
Foto: celine)


"Quem conhece os outros é inteligente.

Quem se conhece a si próprio é esclarecido.


Quem vence os outros é forte.

Quem se vence a si próprio é poderoso.


Quem se contenta com o que tem é rico.

Quem avança com determinação, tem força de vontade.


Quem não abandona o seu lugar perdura.

Quem morre sem desaparecer vive uma longa vida."


(Lao Tse, Livro do Caminho e do Bom Caminhar)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

DE ONDE VEM A COR?(V)


(Foto: celine)


"Laranja, peso, potência.

Que se finca, se apoia, delicadeza, fria abundância.

A matéria pensa. As madeiras

incham, dão luz. Apuram tão leve açúcar,

tal golpe na língua. Espaço lunado onde a laranja

recebe soberania.

E por anéis de carne artesiana o ouro sobe à cabeça.

A ferida que a gente é: de mundo

e invenção. Laranja

assombrosamente. Doce demência, arrancada à monstruosa

inocência da terra."


(Herberto Helder, "Última Ciência", v.3-§9, in Ofício Cantante) 
 

 (Jardim Quinta da Paz - Lisboa
Foto: celine)

É importante ter uma
Casa no Lago,
para abrir intrepidamente
janelas e portas:
e a brisa fresca enxotar dos cantos abafadiços
as teias da melancolia,
e enforcar nas respeitáveis árvores
os pensamentos indignos,
e empurrar ao tropeço nas nodosas raízes
o tem-tem da dúvida,
e arriar no encanto do jogo de sombras
a opressão da angústia,
e afogar no marulho da água
o peso das mágoas,
e prender no limbo lacustre
os caninos da raiva...
Por estas e outras coisas,
é fundamental ter uma
Casa no Lago.