quarta-feira, 24 de novembro de 2021



MEMÓRIAS NUMA CASA VAZIA (I-VII)

(narrativa visual)

 

Uma fotografia é, de qualquer modo, um registo pro memoria

O fotógrafo, ou quem faz as vezes dele, regista factos ou actos que observa, que podem ser vistos e revistos incontáveis vezes. Já a memória dilui-se, esfuma-se, enevoa-se, confunde-se... e, assim, se vai perdendo no decurso do tempo.

As imagens da memória dificilmente serão uma reconstrução da realidade dos factos e ou dos actos, de algum modo, vividos; na maioria das vezes, não passam de uma névoa, um borrão, uma figura indistinta...Um entrever de factos e actos que, por causa dessa imprecisão, pode revelar-se uma ficção de algo que acreditamos ter ocorrido como nos lembramos.

Ora, uma narração é uma exposição de factos reais ou fictícios. E com o acto fotográfico não se documenta apenas um facto, fixa-se, também, uma memória, que se vai (re)compondo em narrativa na nossa mente. 

"Nós somos capazes de raciocinar através de imagens e são essas imagens que constituem a nossa mente", observa o neurocientista António Damásio no programa "Deus Cérebro", que passou recentemente na RTP2.

E como é que se conta uma história através de imagens? Uma narrativa visual, que seja idónea a percepcionar emoções - pelos jogos de luz, de cores, de movimentos, ou por um qualquer artifício da técnica fotográfica?...

Como seleccionar e organizar as imagens de forma coerente, reveladora de uma identidade visual e que, simultaneamente, faça sentido e conte uma história - ou que motive o seu leitor a pensar numa história.

"Se exceptuarmos o campo da Publicidade, em que o sentido só deve ser claro e distinto em função da sua natureza mercantil, a semiologia da Fotografia está, pois, limitada às execuções admiráveis de alguns retratistas. Quanto ao resto, quanto ao conjunto das «boas» fotos, tudo o que podemos dizer é que o objecto fala, induz, vagamente, a pensar. (...) No fundo, a Fotografia é subversiva não quando assusta, perturba ou até estigmatiza, mas quando é pensativa.", (Roland Barthes, A Câmara Clara (Nota sobre a Fotografia), Edições 70, Novembro 2019, pp. 45-47).

Como atribuir um significado comum e dinâmico a uma justaposição de fotografias isoladas, definindo, assim, o «fio condutor» de uma narração visual?

Não sei responder exactamente às questões formuladas, mas a proposta que, aqui, se apresenta é um ensaio de narrativa visual pelo acto fotográfico - e que, talvez, faça pensar em alguma coisa...


(Fotos: celine)








 

sábado, 13 de novembro de 2021

(Foto: celine)

 

"Todos nós nascemos loucos. Alguns permanecem." (Samuel Beckett)


Segundo o fotograma do filme "A Estrela do Mar" (1928), de Man Ray.

Um mestre, incontornável, que afirmou ser a fotografia "uma maravilhosa descoberta dos pormenores que, sem ela, a nossa retina nunca poderia registar".

Este fotograma remete-nos para um arquivo onírico, em que o improvável dos sonhos (o surrealismo do subconsciente...) se pode revelar (e registar!) na realidade, e aqui através da fotografia - uma imagem descomplexada, aberta à leitura e interpretação, sem contudo, com ela se confundir.

E, nesta perspectiva, todas as imagens (aqui, fotográficas, já se vê) contêm sempre algo de espantoso, de extraordinário ou de extravagante e, por vezes, de belo. Ou de loucura...

"I Am Greta     à solta na internet"



(Foto: celine)

A colagem de cartazes não pretenderá constituir ArTe, arte social - pese embora, a técnica mista que utiliza colagens.

E provavelmente quem faz colagens de cartazes publicitários apenas se inspira no pragmatismo do espaço disponível para o formato do cartaz.

A arte é plástica, na diversidade de conceitos e ela própria conceptual. 

Será o acto de criação do artista, mais ou menos consciente da aptidão artística, ou melhor, da plasticidade artística da obra criada, ou da criatura.

Mas será, para além disso, também um modo de ver. De ver como as coisas se encaixam no mundo, como se envolvem no ambiente - natural, social, cultural - revelando-se, por vezes, de modo natural, sem pré-conceito, sem premeditação.

E quem olha a criação, pode sempre descobrir naquele acto natural um outro sentido artístico.

ArTe será, igualmente, um modo de ver - vidé "Modos de Ver", de John Berger.