MEMÓRIAS
NUMA CASA VAZIA (I-VII)
(narrativa
visual)
Uma fotografia é, de qualquer modo, um registo pro memoria.
O fotógrafo, ou quem faz as vezes dele, regista factos ou actos que
observa, que podem ser vistos e revistos incontáveis vezes. Já a memória
dilui-se, esfuma-se, enevoa-se, confunde-se... e, assim, se vai perdendo no
decurso do tempo.
As imagens da memória dificilmente serão uma reconstrução da realidade dos
factos e ou dos actos, de algum modo, vividos; na maioria das vezes, não passam
de uma névoa, um borrão, uma figura indistinta...Um entrever de factos e actos
que, por causa dessa imprecisão, pode revelar-se uma ficção de algo que
acreditamos ter ocorrido como nos lembramos.
Ora, uma narração é uma exposição de factos reais ou fictícios. E com o
acto fotográfico não se documenta apenas um facto, fixa-se, também, uma
memória, que se vai (re)compondo em narrativa na nossa mente.
"Nós somos capazes de raciocinar através de imagens e são essas
imagens que constituem a nossa mente", observa o neurocientista António Damásio no programa "Deus
Cérebro", que passou recentemente na RTP2.
E como é que se conta uma história através de imagens? Uma narrativa
visual, que seja idónea a percepcionar emoções - pelos jogos de luz, de cores,
de movimentos, ou por um qualquer artifício da
técnica fotográfica?...
Como seleccionar e organizar as imagens de forma coerente, reveladora de
uma identidade visual e que, simultaneamente, faça sentido e conte uma
história - ou que motive o seu leitor a pensar numa história.
"Se exceptuarmos o campo da Publicidade, em que o sentido só deve ser
claro e distinto em função da sua natureza mercantil, a semiologia da
Fotografia está, pois, limitada às execuções admiráveis de alguns retratistas.
Quanto ao resto, quanto ao conjunto das «boas» fotos, tudo o que podemos dizer
é que o objecto
fala, induz, vagamente, a pensar. (...) No fundo, a Fotografia é subversiva
não quando assusta, perturba ou até estigmatiza, mas quando é pensativa.",
(Roland Barthes, A Câmara Clara (Nota sobre a Fotografia), Edições
70, Novembro 2019, pp. 45-47).
Como atribuir um significado comum e dinâmico a uma justaposição de
fotografias isoladas, definindo, assim, o «fio condutor» de uma narração
visual?
Não sei responder exactamente às questões formuladas, mas a proposta que,
aqui, se apresenta é um ensaio de narrativa visual pelo acto fotográfico - e
que, talvez, faça pensar em alguma coisa...
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