(Foto: celine)
"(...) O tom de uma cena que representamos em nossas vidas é largamente determinado pela luz projectada do alto de nós. Enquanto electricista-mor, o céu fornece uma infindável variedade de efeitos de iluminação às nossas acções, ajudando ate a moldar as emoções que as acompanham. Há o vagaroso obscurecimento do crepúsculo para a troca de intimidades, a luz diluviana de uma manhã primaveril para sentirmos irrazoável deleite, o negrume da noite quando nenhuma luz cai do céu e nos tornamos vítimas das nossas próprias fantasias, a luz cinzenta, indiferente do céu de verão, um incitamento à indolência. Como podemos nós dizer até que ponto foram as nossas acções determinadas pela luz que nos envolvia enquanto as executávamos? Mas esses efeitos indirectos empalidecem ao lado do insuperável espectáculo do próprio céu enquanto este os vai produzindo. Em geral concorda-se que as visões mais surpreendentes e grandiosas que um ser humano consegue imaginar têm lugar no céu. É uma mera questão de olhá-lo; o céu há-de cumprir.
(...) Um pesadelo recorrente: a atmosfera da Terra escapou para o espaço, e nós vemos que o céu se tornou permanentemente negro. (...)"
(Paul Bowles, Viagens)
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