Centenário de Nascimento
07/10/1924 * 07/10/2024
(Edição e montagem de imagem: celine)
De pontas polidas, um tira-linhas desenhou -
pelos traços cursivos dos dias – a rectilínea da tua vida -
num alçado simples, com adornos de alegria,
relevos de tristeza – sem pretensões;
mas nem por isso
menos talhada, menos fendida,
que pela singularidade de uma vida humana.
(E as palavras necessárias,
pedras cravadas nesta estéril pena!...)
Obedecendo à forma da mãe
em flores coroada, barrando os caminhos;
mas os ramos sanificados pela esposa colhidos.
Num sopro de vida à terra-mãe lançado,
por uma mirada invertida,
moldaste uma cefeida fora do universo.
(E as palavras necessárias, pedras
embotadas nesta estéril pena!...)
De negra tinta-da-china mancharam-se os últimos anos…
À escala de um compasso torcido,
em esquadrejada crispação do andante,
sulcaram-se penosos momentos,
cotas de angústia, pelo estilete do fado…
E renascia a criança desligada do corpo
que inexoravelmente a subvertia.
(E as palavras necessárias,
pedras obtusas nesta estéril pena!...)
Na talha dos dias derradeiros,
sob a gárgula das lágrimas, da desesperança,
à espera, sempre à espera,
da cefeida regressada de arquétipos jazentes,
para o cenário da ruína da vida,
que é a morte.
Hoje, na aguarela verde e azul em que mareia
o teu antolhado barril, eu vejo fundear
as jubilosas cinzas do que foste.
(“Bate-me com a tua amorosa água, posso retribuir-te.
Mar do sal da vida e dos túmulos por cavar mas sempre abertos,”) *
Na lonjura do esquadro céu terra mar,
é, de ora em diante, na incomensurável espuma quântica
que flutua sempiterna a memória de ti (Pai).
*Walt Whitman, Canto de Mim Mesmo
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