segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

(Foto: celine)
 
A cada uma das crianças
que, ainda, brinca
nos nossos corações, desejo um
 
FELIZ NATAL!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

(Foto: celine)
 
Quero as ondas a mergulhar em mim!
 
(Foto: celine)


- O nosso encontro, amor?
- Afoguei-o no rio!
 

(Foto: celine)


Tenta. Não dá. Vai passar.
Tenta. Não dá. Vai passar.
Tenta. Não dá. Vai passar.
 
Pra quando,
tenta, dá, vai ficar?
(Foto: celine)

Pedra do Tempo, de um Tempo sem pedras.
 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

 
Adeus VERÃO! Até para o ano!
 
(Foto: celine)

E, assim, acaba o VERÃO na mais bela praia do Norte de Portugal - Foz do Minho/Moledo.
 
(Foto: celine)
 
Sob o sol do Estio, embrenhávamo-nos pela Mata do Camarido, as narinas frementes da resina dos pinheiros, para acabarmos mergulhando na extensão de praia de areia fina e mar salgado.
Um pedaço de Atlântico convidando-nos para umas vigorosas braçadas até à seiscentista Fortaleza da Ínsua, plantada, ali no horizonte, entre cinco baluartes... como uma estrela do mar!
(Foto: celine)
 
Flutuando nas águas, ficou o desejo de, alcançada a Fortaleza, a alma do Visconde de Vila Nova de Cerveira nos recebesse com fresco marisco das Rías Baixas galegas e revigorantes taças geladas de vinho verde - mais Alvarinho que Loureiro (e verde tinto, só para mulheres e homens bravos!)
 
Os mais românticos saibam que a Fortaleza assenta numa ilha deserta...
 
(Foto: celine)
 

 
(Foz do Minho, Setembro de 2015)



 
 


«O povo é uma matéria inflamável», deixa da personagem Moreau no filme Les Adieux à La Reine, de Benoît Jacquot, que passou recentemente na programação da RTP2, dedicada ao cinema francês.
Trata-se de um drama, historicamente situado no alvorecer da Revolução Francesa, com a Tomada da Bastilha, sob o estandarte «liberté, égalité, fraternité», movimento pretendidamente determinante da evolução progressista da sociedade que desperta o conflito da ética do Estado face ao embrião da ideia de liberdade dos cidadãos.
Curiosamente, a exibição desse filme foi antecedida do documentário Fronteiras Desvanecidas, realizado pela imigrante jugoslava no Chipre, Iva Radivojevic, em resultado da sua investigação sobre os efeitos da imigração na identidade nacional, no contexto do êxodo migratório dos que buscam asilo no Chipre.
A França foi, décadas atrás, um dos destinos alvo da imigração, e até da migração de povos, destacando-se os oriundos do Magrebe (em especial, Argélia, Tunísia e Marrocos), assistindo, então, ao surgimento dos bidonvilles de Paris, e, hoje, ao bulício de ideais nacionalistas, de extrema-direita… tão longínquos do estribilho revolucionário de 1789!
O Mundo assiste, agora, a uma hecatombe migratória de refugiados políticos ou, simplesmente, de gente aflita que foge da insegurança, da fome, da pobreza, do fanatismo, da guerra, navegando à deriva do seu sofrimento, acabando, muitos deles, a naufragar corpos e sonhos no mar - tão belo e tão terrível! - sem nunca sucederem na Tomada da Europa.
Sentimentos de impotência e de desespero são pavios curtos que reciprocamente inflamam os ânimos de refugiados e de nacionais, avivando as chamas da fúria de uns e as da segregação dos outros – e os povos transformam-se, assim, em matéria inflamável.
Gente que foge do fogo da guerra para acabar num paiol de frustração!
No discurso dos direitos, alicerça-se o Direito Internacional num enunciado de direitos humanos, crescentemente diversificados e específicos; e sobre estes hão-de assentar os direitos fundamentais, de consagração constitucional, de cada país.
O princípio democrático assenta no postulado que o HOMEM é princípio e fim do Estado e da sociedade, que lhe serve de justificação existencial e, por isso, deverá constituir um valor axiomático merecedor de cuidada tutela jurídica.
Historicamente, os valores essenciais à condição humana têm sido designados com diferentes classificações, sem que possa concluir-se pela exacta correspondência a diferentes categorias, como sejam Direitos do Homem ou Direitos Humanos, Direitos do Homem e do Cidadão, Direitos, Liberdades e Garantias…
Mas, independentemente da concreta categorização, todas as designações convergem que a dignidade da pessoa humana é um valor fundamental do ordenamento jurídico de qualquer Estado.
Nas palavras de Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, «a crise migratória é um desafio em todos os sentidos da palavra, incluindo o financeiro», orientando-se a política orçamental e financeira dos Estados pela prioridade da definição da política de asilo, (cfr. Diário Económico, edição de 05/10/2015).
A Carta Internacional dos Direitos Humanos – erigida a partir da Declaração Universal - enfatiza a universalidade do direito que assiste a toda a PESSOA; a protecção que é devida pela dignidade da PESSOA, com um sentido e alcance que ultrapassa os direitos dos cidadãos.
No que respeita especificamente aos refugiados, a denominada Convenção de Genebra prescreve o princípio do non-refoulement, como a proibição de qualquer um dos Estados Contratantes de expulsar e de repelir um refugiado, seja de que maneira for, para as fronteiras dos territórios onde a sua vida ou a sua liberdade sejam ameaçadas em virtude da sua raça, religião, nacionalidade, filiação em certo grupo social ou opiniões políticas, (cfr. artigo 33º, nº 1).
Este princípio do non-refoulement, originariamente instituído no Direito Internacional Consuetudinário, adquiriu, com a Convenção, natureza de norma jus cogens – ou seja, trata-se de uma norma imperativa.
Perante esta massificação migratória, proveniente de África e dos países islâmicos, espera-se, reversamente, que a União Europeia pressione o presidente turco, Recep Erdogan, para que tome medidas impeditivas da entrada de novos migrantes na Europa através da Turquia, (cfr. Diário Económico, edição de 05/10/2015).
Consabidamente, a extensão geográfica global e a multiculturalidade são barreiras muito dificilmente transponíveis para se entrar no campo da consensualidade para um convívio pacífico da Humanidade.
Estas correntes migratórias de gente põem, assim, à prova os limites da globalização, no que, de algum modo, pode comprometer a essencialidade da dignidade humana - e que tem como sujeito simplesmente a PESSOA - em que assentam todas as valorações normativas dos direitos humanos.
Os acontecimentos recentes aí estão a demonstrar, inexoravelmente, as dificuldades.
Na exposição INFINISTERRA, que decorreu, este ano, no Museu do Oriente, percebeu-se que cada país tem uma identidade peculiar e os fenómenos migratórios têm o inevitável efeito da multiculturalidade (linguística, religiosa, cultural, social), gerando uma realidade complexa – e nesse fenómeno ocorre uma interpenetração das características estrangeiras e das nativas.
Pode, então, surpreender-nos a constatação que «[a] riqueza humana relembra-nos a fragilidade do conceito fronteira», (INFINISTERRA).
Nos 100 anos que, agora, passam sobre a publicação de Metamorfose, de Franz Kafka – também ele, um marginalizado pela língua e pela religião – assistimos, na Velha Europa, nestes novos tempos, a uma metamorfose da identidade nacional numa identidade cosmopolita, promovendo a biodiversidade como um valor em si mesmo, (tema em destaque no Pavilhão da ONU, na EXPO Milano 2015).
A Organização das Nações Unidas, nas declarações de direitos que orienta, incentiva a preservação da biodiversidade como meio de promoção do equilíbrio e harmonia dos povos, atento o binómio diferença-desigualdade, assente que «nessun luogo senza un genio» - partindo do conhecimento do lugar do HOMEM no Mundo (genius loci), talvez, se alcance a harmonia e a paz na convivência da Humanidade, (ibidem).
O acento tónico do discurso dos direitos tende a deslocar-se, enfaticamente, para o direito à diferença.
Até que ponto o multiculturalismo poderá constituir um modo de estruturar a emergente diversidade social?
E nessa (re)estruturação até onde deverá a Europa tolerar a diversidade para, ainda, conseguir concretizar a unidade europeia?
A solidariedade no género humano explica a solidariedade comunitária, entre as pessoas do mesmo grupo e entre os diferentes grupos.
O princípio da igualdade, saído dos ideais da Revolução Francesa – na época, com a finalidade de combater os privilégios de determinadas classes sociais – tendo gerado, durante o Estado Liberal como igualdade perante a lei, desigualdades substanciais e económicas, vem a ser desenvolvido no Estado Social como igualdade na lei, diferenciando-se a discriminação positiva e negativa e especificando-se uma igualdade de oportunidades.
O princípio da igualdade, aplicado no âmbito dos direitos humanos, na preservação da dignidade humana, erige-se, também, como norma jus cogens.
A multiculturalidade reclama características específicas para o exercício de direitos, orientando-se para uma discriminação positiva do princípio da igualdade, sem que, no entanto, se desvie da eventual correcção de situações de necessidade, no sentido de estabelecer uma base de solidariedade dentro da mesma comunidade política – precisamente, em nome da preservação do essencial da dignidade humana.
Os fenómenos de disseminação dos povos repartem-se entre a homogeneização e a miscigenação, afirmando-se, às vezes radicalmente, o direito à diferença e, paradoxalmente, pretendendo inspirar a crença que somos todos cidadãos do mundo (!).
Em Setembro passado, a maioria dos países que integram a União Europeia aprovou um programa de relocalização em que, cada um dos Estados-membros intervenientes, aceita acolher uma quota de refugiados, na medida das suas possibilidades, decisão política que teve a chancela de Angela Merkel, tendo sido a Alemanha o primeiro país europeu a abrir as portas a essa leva migratória.
Estes recentes movimentos migratórios, ocorrendo a uma velocidade nunca antes conhecida, pressionam os decisores políticos para acções, igualmente, rápidas que podem acabar perturbando os conceitos de alteridade e etnocentrismo, direitos das minorias e direito à diferença.
É no diálogo de culturas, em que se dá voz à multiplicidade da condição humana – a «alma própria de um povo», no seu direito à auto-determinação, do filósofo alemão Gottfried von Herder - que ganham protagonismo valores de liberdade e de paz na busca do equilíbrio no estabelecimento de uma ordem normativa e política (Henry Kissinger, A Ordem Mundial).
A União Europeia já se afadiga na instituição de um «pacto de cidadania», que relacione o indivíduo ao Estado e à sua comunidade, sem interferir com as crenças pessoais, valores ou outros aspectos de identidade pessoal.
Como vai, agora, alinhavar este acolhimento de gente tão heterogénea, sem tradição cultural europeia ou sequer ocidental?
Como resolver a (inevitável) interculturalidade, na igualdade e na diferença ditadas pela divisão dessa gente, estrangeira e nacional, por identidades étnicas, religiosas, linguísticas e ideológicas diversas?
Com tantas visões do Mundo a fervilharem no caldeirão das necessidades – mais casas, mais escolas, mais garantias de educação e mais saúde… - que prioridades estabelecer, como equilibrar na discriminação positiva as diferentes oportunidades?
O acolhimento de refugiados na medida das possibilidades do Estado acolhedor põe em jogo uma ponderação que evoca o princípio da proporcionalidade – definindo-se em concreto um conjunto de alternativas que pressupõem uma relação meio-fim que, por sua vez, permita aferir a necessidade, adequação e razoabilidade dessas alternativas – mas, igualmente, o princípio da igualdade, em especial não privilegiando ou privando algum refugiado em função de qualquer direito em função, designadamente, da raça, língua, território de origem, religião ou convicções políticas, tendo como denominador comum exigível a dignidade da pessoa humana.
Num momento do documentário Fronteiras Desvanecidas, um cipriota coloca uma interrogação que nos impele à reflexão: como podem países geograficamente pequenos, sujeitos passivos de operações de resgate financeiro, acolher este êxodo de refugiados? Como abrigá-los? Como alimentá-los? Que empregos oferecer-lhes?
A resposta às questões colocadas – Portugal é um dos países a acolher uma quota-parte de refugiados – encontra-se, ainda, na argamassa para a concretização das ideias políticas.
Citando Klemens von Metternich (estadista do Império Austríaco): «onde tudo vacila, é prioritário que algo, não importa o quê, permaneça firme para que os perdidos possam encontrar um vínculo e os extraviados um refúgio».
Bastará como trave-mestra do confronto com esta avalancha migratória o sabermos alguma coisa da essencialidade da dignidade humana?
 
(Lisboa, 9 de Outubro de 2015)


Não é Kafka. É Celine.

Não temos a pretensão de escrever um artigo de opinião sobre um (terrível) fenómeno humanitário que afronta os nossos dias; apenas registar uma nota que (quem sabe!) dê a volta à chave - não da "caixa de Pandora" que é o tema dos direitos humanos - de portas que se abram ao debate, numa época em que o senso comum parece escapar à reflexão, necessário pressuposto da decisão política.

Observando estes dramas migratórios, que vêm perturbando o mundanismo da Velha Senhora - e não deixa de nos impressionar o contraste do convergente voluntarismo europeu no cotejo de uma crise financeira e a conflagração da mesma Europa no confronto da crise humanitária... - ocorre-nos (re)pensar a fragilidade do HOMEM, a fragilidade da CONDIÇÃO HUMANA, retornando a reflexão para a literária corrosão da amargura em MALRAUX e para a filosófica constância do movimento em ARENDT.

Esse cenário dramático, convoca-nos, prima facie, para uma outra VIAGEM; um movimento em direcção à negritude que pode ser a condição do HOMEM - "Viagem até ao fim da noite", de CELINE, de que transcrevemos o seguinte trecho:

"E quem iria depois julgar-me? Tipos especializados, armados com leis terríveis extraídas não sei de onde, tal como no Conselho de Guerra, e cujas verdadeiras intenções nunca nos são reveladas, que se divertem em nos fazer sangrar, a trepar o verdadeiro pico que dá para o inferno, o caminho que leva os pobres ao matadouro. A lei é o grande luna-parque do sofrimento. Quando o miserável se deixa apanhar, séculos e séculos mais tarde ainda o ouvimos gritar".

Fica o mote...

Terminamos com uma prosódia, sabendo-se que a música, muitas vezes, serve melhor à assertividade da palavra.


Me llaman el desaparecido

que cuando llega ya se ha ido

volando vengo, volando voy

deprisa deprisa a rumbo perdido

cuando me buscan nunca estoy

cuando me encuentran yo no soy

el que está enfrente porque ya

me fui corriendo más allá

me dicen el desaparecido

fantasma que nunca está

me dicen el desagradecido

pero esa no es la verdade

yo llevo en el cuerpo un dolor

que no me deja respirar

llevo en el cuerpo una condena

que siempre me echa a caminhar

me llaman el desaparecido

que cuando llega ya se ha ido

volando vengo, volando voy

deprisa deprisa a rumbo perdido

yo llevo en el cuerpo un motor

que nunca dejade rolar

yo llevo en el alma un caminho

destinado a nunca llegar

me llaman el desaparecido

cuando llega ya se ha ido

volando vengo, volando voy deprisa deprisa a rumbo perdido

perdido en el siglo... siglo XX... rumbo al XXI.
 
(Lisboa, 25 de Setembro de 2015)
 
(Fauno no bosque...)
 
 
Ah se me permitisses, ó Fauno,
roubar a beleza da tua alegre juventude
num beijo!...
 
Tu, que sopras do sotavento,
porque não queres ser o mouro na costa
do meu desejo?...
 
(Valença, Setembro de 2012)
O vinho é...

... música, amizade, poesia, paixão,
sentimento, em tudo é emoção!

E nos dias muito, muito maus é...

... bebedeira.

Mas, tal como o sexo, mesmo quando é mau, é bom.

Vino is Love!

(Milão, Julho de 2015)
(Foto: celine)

 
 
E se a vida deslizasse na alternância da agitação turva
e da suavidade romântica das águas dos canais de Veneza?
 
Cosa vivere?
 
E chegar à noite, alinhar os sonhos nas águas calmas do sono,
como gôndolas adormecidas na enseadazinha do Albergo Cavalleto?
 
Il sogno...
 
(Veneza, 14 de Junho de 2013)
 
(Foto: celine)
 
Caminhante,
salgas-te em ânsias nas ondas destemidas.
 
Desiludida...
 
Errante,
gritas, depois, o sal das tuas feridas.
 
Perdida!
 
(Praia do Castelo, Novembro de 2015)

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Ode de uma funcionária

(a propósito da Sonatine Bureaucratique, de Erik Satie)


Chegou soberba, imponente,
distribuindo sorrisos,
e sempre ajeitando um "bom dia, como está?",
pra toda a gente.

Chamou a secretária e ditou:
"Registe. Notifique. Telefone. Faxe."

Chamou a funcionária e ordenou:
"Estude. Pesquise. Execute. Faça."

Passa o tempo. O trabalho prensa.
Os objectivos ameaçando ruína iminente...

A Directora apoquenta-se:
"Ai que aflição! Assim não me safo!..."

Chama a funcionária e grita:
"Estude. Pesquise. Cumpra. Trabalhe."
"Mas, Senhora Directora,
aqui não deve haver alimárias,
porque devo ser eu a única que marralha!?",
ofende-se a funcionária.

"Pois, 'tá claro!" - responde a Directora.
"Mas não se pode contar com a maralha,
que anda tudo jogando à malha,
por esse corredor fora!"

E continua a Directora:
"A C... não atalha;
A F... sempre me falha;
A M... só atrapalha.
Se não fores tu, não há quem me valha!"

A funcionária, renitente,
vai ouvindo a Directora insistente:
"No trabalho és tu...
competente,
paciente,
persistente!..."

E a funcionária lá se convence!

Passa o tempo. Eis o final do ano!

Para tudo! Pra fazer o balanço.

Pede a Directora as fichas do desempenho.
Vê, verifica, compara, classifica.

"Pode lá ser! Que desequilíbrio! Que desdita!
Assim não avanço!"

Chama a funcionária.
E capciosa, explica:
"Vi os números, fiz as contas, baralhei os dados...
No fim, sempre o mesmo resultado:
tu, 'tás num nível alto; certos outros um bocado abaixo.
Pensei num modo que mitigasse
este nefasto efeito, talvez, esquecermos
que certos trabalhos em termos,
és tu que os trazes feitos."

(Lisboa, 2010)
Qualquer Natal

Emoldurados por uma árvore de Natal faiscante,
catrapiscando a grossa posta de bacalhau em azeite -
único rei visitante
de uma etérea noite anunciada -
os familiares supostos e dispostos à mesa da consoada, desentaramelam a eito
votos de amor, paz e harmonia.

Libertados os laços dos presentes ofertados à porfia,
já as pretensões  dos Homens se alteiam
à Fortuna e à Ventura... (mas por divino empenho)
 e no mais que dinheiro e sorte ateiem
no sopro dos primeiros bafos do Novo Ano.

E lá por altura dos Reis, com bolsas depauperadas,
já só sobram as trincas no bolo de frutas -
com as favas esmaecidas de tão contadas.
Os Homens, esses, tornam às amargas labutas,
adoçando o coração em promessas natalícias remediadas.

(Lisboa, Dezembro de 2013)
Carta ao Senhor Pablo Neruda.


Virei as costas ao desprezo, à indiferença, à obtusidade,
por um trabalho reconhecido, mas, no final, impudentemente explorado,
e corri, destemida, em busca de uma esperança renovada,
contrariando certos ecos de bom senso,
para não morrer lentamente na inércia, na frieza, na cobardia.

E, lamentavelmente, a batalha do meu esforço progrediu
na razão inversa da força anímica da minha vida...

Convencida da ínfima importância da sorte ou inspiração
na garantia do sucesso, só conseguido com trabalho árduo e devoção,
abracei, com receio contido, projectos novos e desafios ignorados,
enfrentando os abismos vertiginosos de um saber, ainda, desconhecido.

E, estuporadamente, a batalha do meu esforço evoluiu
na razão inversa do soldo que lhe era devido.

Os outros, os infelizes, barricando-se com lamúrias
e alimentando-se com doses suaves de indolência,
lá arriscam uns esquemazitos,
para, airosamente, se aliviarem do trabalho e da polivalência.

Mas, calmamente, burlam a luta da vida,
num esforço positivamente inverso ao resultado obtido...

Esses que declaram inânimes que nada sabem
e tudo desconhecem, acossam-se, todas as vezes na vida,
dos projectos audazes e desafios misteriosos,
(não vão eles finar-se com o esforço para tal exigido...)

Mas, infalivelmente, ganham as contas da vida,
saldando-se sempre com um valor acrescido.

Diga-me, Senhor Pablo Neruda,
de que me valeram, então, as doses maciças de esforço em estar viva
se, na verdade, é naquela morte lenta que os outros alcançam realmente a vida?

Desesperadamente...

C.

(Lisboa, 15 de Janeiro de 2009).

(Foto: celine)
 
 
Tanta liberdade nas asas em voo!
Tanta paz na espuma branca do mar!
 
E eu, aqui,
 
acorrentada,
às minhas mãos, aos meus pés;
acossada,
na minha mente estuporada!
 
 
(Costa da Caparica, Novembro de 2015)
Um pardalito poisou no meu beiral.
dei-lhe um beijo para o meu amado.
Partiu.
Não voltou, o pardalito.
Sumiu.
............................................................
E o beijo, chegou afinal?
 
(Lisboa, 25 de Agosto de 2004)
Ó mar salgado, como te invejo!
Ondas que abraçaste com sofreguidão,
branca espuma que beijaste com paixão,
o corpo amado, longe do meu desejo.

(Santorini, 15 de Julho de 2004)

Seduzida por doces enganos,
sucumbo, agora, na agonia da saudade
desses momentos traídos.

(Atenas, 11 de Julho de 2004)