quarta-feira, 30 de novembro de 2016

(Tui - Galiza)
(Foto: celine)
 
 
No veludo azul da noite
impressionam-se
olhares reticenciosos
risos exclamados
palavras virguladas
pensamentos interrogativos
- mágoas hifenizadas -
que eclodem na galáxia humana
como estrelas cadentes
cruzando-se
no veludo azul da noite.
 
 
(Ponte Rodo-Ferroviária de Valença)
(Foto: celine)

A força do remador
é toda a sua acção.
No espelho da água,
o seu fado.
 
 
 
 



quinta-feira, 20 de outubro de 2016

 
 
 
(Tejo, Lisboa)
(Foto: celine)

Sob os céus de Lisboa,
instalação do Inverno - 
trabalhos em curso...

(Tui, Galiza - Espanha)
(Foto: celine)
 
 
Vesti-me da noite.
Calcei-me dos sonhos.
E saí
pelo caminho medievo
afora
a iludir as estrelas.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

 
(Tui, Galiza - Espanha) 
(Foto: celine)
 
Dentre as folhas secas do telhado
está um poema branco
a acenar-me da janela.
.......................................................
Meus olhos,
vidrados na sombra,
não o sabem ler.


segunda-feira, 30 de maio de 2016

(Foto: celine)

a sofística demência do poeta
expulsa-me da alma o sonho anunciado
e o poema cala-se-me na boca desiludida;
o presente é agora um feixe de folhas
brancas, sufocadas em palavras despidas
- talvez o verso ‘inda se acuse,
por entre as estrofes magoadas
ao encontro da rima arrependida,
que absolva as reticências glosadas
no capricho nietzschiano do poeta

ó musa cuspida no não sentido da palavra
inquieta!
não me renuncies ao silêncio do mote acidulado!
recria-me agora no corpo das letras abandonadas!
reedita-me logo na alma do verbo amargurado!
até que eu sangre os poemas melífluos
que me estrangulam as artérias do desejo!
.................................................................................

ou até que o poeta volte,
para me beijar a imortalidade da loucura, 
para me morder a esdrúxula angústia volvida,
para me lamber o silêncio ferido da flor,
.................................................................................

não me digas adeus, poeta!
não na minha boca! 

a noite toda,
a pluma aluada na tinta do licor,
na espúria da tenção traída,
inscreve-me, assim, a Poesia

segunda-feira, 9 de maio de 2016



(Edição de foto: celine)

"Levaram-me para casa do meu noivo
mas o meu desejo de o conhecer
permanece por realizar
e os dias da minha juventude
desvanecem-se como um sonho

Cinco homens construíram o palanquim
Outros três escolheram a data mais auspiciosa
Os meus amigos cantaram o hino nupcial
A minha confidente aplicou-me na testa
a pasta de açafrão da alegria e da pena
Mas o meu desejo de o conhecer
permanece ainda por realizar

Com cerimónias coloridas
teve lugar o casamento
O meu pai atou o meu lenço
às vestes do noivo
no altar que o meu irmão construíra

Desde o início
que estou só e desamparada
O meu amado permanece indiferente
Nunca o encontro
Nunca tive um vislumbre
do seu rosto
Iludi-me
Pensei que era uma mulher casada
Os dias da minha juventude
desvanecem-se como um sonho
e o desejo de o encontrar
permanece por realizar

Lançar-me-ei
viva
na pira do amor
Atravessarei o oceano
ao som de um tambor
Para conseguir unir-me
com o meu amado"

(Kabir, O Nome Daquele Que Não Tem Nome - poeta indiano, 1ª metade séc. XV)

segunda-feira, 28 de março de 2016

 
 
 
Tríptico ou a Modernidade de Neptuno
(Foto: celine)
 
 
 
- «Príncipe, que de juro senhoreias,
De um Pólo ao outro Pólo, o mar irado,
Tu, que as gentes da Terra toda enfreias,
Que não passem o termo limitado;
E tu, Padre Oceano, que rodeias
O mundo universal e o tens cercado,
E com justo decreto assi permites
Que dentro vivam só de seus limites; 
 
«E vós, Deuses do mar, que não sofreis
Injúria algua em vosso Reino grande,
Que com castigo igual vos não vingueis
De quem quer que por ele corra e ande:
Que descuido foi este em que viveis?
Quem pode ser que tanto vos abrande
Os peitos, com razão endurecidos
Contra os humanos, fracos e atrevidos? 
 
«Vistes que, com grandíssima ousadia,
Foram já cometer o Céu supremo;
Vistes aquela insana fantasia
De tentarem o mar com vela e remo;
Vistes, e ainda vemos cada dia
Soberbas e insolências tais, que temo
Que do Mar e do Céu, em poucos anos,
Venham Deuses a ser, e nós humanos.»
 
(Os Lusíadas, Canto VI, 27-28-29)
 
 
 
 
 
 


 



segunda-feira, 21 de março de 2016

 

(Foto: celine)
 
 
"A Crazed Girl
 
That crazed girl improvising her music,
Her poetry, dancing upon the shore,
her soul indivision from itself
Climbing, falling she knew not where,
Hiding amid the cargo of a steamship,
Her knee-cap broken, that girl I declare
A beautiful lofty thing, or a thing
Heroically lost, heroically found.
 
No matter what disaster occurred
She stood in desperate music wound,
Wound, wound, and she made in her triumph
Where the bales and the baskets lay
No common intelligible sound
But sang, 'O sea-starved, hungry sea'."
 
(W. B. Yeats)


domingo, 13 de março de 2016

LOUCA         :      :         :    
      ;  ;                     
                :  ;           
   CONVERSA                ,  ,
              ,        ,  ,        ,
                :      :       
           CORPO  .  .           
  .    .        .    .    .    .      .  
        .    .      .    .  .  .       
.  .    .        .  .  .            .  POETA

domingo, 6 de março de 2016




(dead underwater - autor desconhecido)

Não sirvo nada, nem a mim própria nem aos outros, se não puder ter a liberdade de escolher ser quem realmente quero ser.

sábado, 5 de março de 2016

(Foto: celine)



RomA regressa a casa.
Regressa sempre à mesma hora e no mesmo roncear do motor da vida sem surpresas.
Eu enxergo RomA regressar, mesmo quando só os ouvidos percebem RomA na sua costumada vinda para casa.
Vem sem admiração. 
Eu espero. Espero todos os dias.
RomA vem a recolher-se no afago da casa. Basta-lhe o simplismo do afago morno da casa.
E tudo está bem.

RomA regressa todos os dias a casa...

(... mas não vem a acomodar-se no ânimo da minha alma... mas não volta a consolar-se no fogo do meu corpo... e tudo está frio...)

......................................................................................................................

RomA volta sempre para casa... 

Eu não espero RomA voltar para casa.

Eu não espero. Não espero dia nenhum.



domingo, 14 de fevereiro de 2016

Hoje é Dia de S. Valentim.

Instituiu-se que hoje é um bom dia para celebrar o amor, como se o amor tivesse agenda para acontecer.
Amanhã, pelos vistos, já não será um dia adequado para a celebração – do amor.
Hoje, sim, temos franca permissão para amar. Com muitos coraçõezinhos - vermelhos, claro está, porque, até para adeptos de outras colorações, o dia de hoje impõe-se a vermelho, assim mesmo, com o sentido reaccionário da cor.
Mas, dizia eu, com muitos coraçõezinhos vermelhuscos, com muito morango (lá está o vermelho!), muito chocolate (esta conexão, para mim, constitui, ainda, um mistério, até porque eu como chocolate todos os dias, esteja amando ou não…) e vinho tinto (suspeito que seja pela proximidade da cor vermelha).
Amanhã, parece, já não será um bom dia para o amor. Mas hoje é.
Amanhã, depois se verá.
Há várias formas de amar, é certo, mas, neste dia, parece que só importa a forma I love you – frase replicada à exaustão em almofadinhas (em formato de coração vermelho…), ursinhos, cãezinhos e, provavelmente, outras mimosas espécies zoomórficas, cartõezinhos, molduras, castiçais de velas, não esquecendo a novel minionsmania … e o mais que o engenho e arte comerciais permitirem engendrar com vista fina na inesgotável fonte de amor pelo lucro.
E, hoje, eu estou muito triste – apesar de ter recebido um coraçãozinho de chocolate (e, sim, tinha outro coração mais pequenino vermelho).
E estou muito triste por me ter lembrado do Miguel. O Miguel que, neste fim-de-semana de celebração do amor, teria feito 37 anos de idade, não fosse a chatice de ter desaparecido há dois anos vítima da errância de uma (outra) malograda seta, um galopante cancro nos pulmões.
O amor entre uma mãe e o seu filho parece-me ser uma forma sublime e inigualável de amor, não para ser lembrada apenas num domingo de Maio, mas a valer para a vida inteira, muito para além da morte, porque intemporal.
Lembrar-me do Miguel, neste Dia de S. Valentim, é lembrar-me, igualmente, de um dos meus males de amor - o que vai escrevinhado aí mais à frente.
Compreendo que este escritozinho – alinhavado em Aveiro, por ocasião do Dia de Finados de 2014 - não tem importância para figurar num blogue, quanto mais ser publicamente divulgado.
Mas permita-se-me, neste Dia de S. Valentim, dar largas, muito egoisticamente, ao meu amor por mim e esbandalhar a minha autocomiseração, como só em actos de amor (bobo, como todo o amor egoísta pode ser) se é capaz de fazer.
É que reservo para mim a secreta esperança que, estripando, assim a céu aberto, as perdições da minha alma, eu ainda encontre salvação…
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Passaram 6 meses. A Amélia ainda sofre – mesmo conciliada com sedativos e anti-depressivos.
Dor de Mãe que não volta, nunca mais, a rever o FILHO, que morreu.
Com ele, sepultou os seus próprios sonhos, as suas íntimas esperanças, as suas manifestas alegrias – momentos da vida que aconchegou dentro dela durante 9 meses, que sublimou no primeiro sorriso, que guiou nos primeiros passos, que ensinou nas primeiras palavras, que escutou na primeira paixão…
Esses jovens braços que, inânimes, baixaram à terra, não mais a acariciarão num apelo quente de “Mãe”, não mais a abraçarão num beijo atabalhoado de gostoso…
Resta-lhe a memória do que foi; talvez, uma saudade do que já não vai ser.
Eu não sei que dor é essa, a de perder um FILHO.
Não saberei nunca.
Mas não saberei, igualmente, que frémitos suaves, que sussurros débeis são esses que se sentem no ventre que dará um FILHO.
Que amor é esse de ouvir chamar “mamã”, “mãe”!
Que doce sentir é esse de tocar na macia pele de um filho, de acarinhar mãos e pés, tão pequeninos!
Que música de encantar, o balbuciar, o palrar infantil, o gargalhar juvenil, o murmurar da voz de um FILHO!
Nada sei de sonhos, de esperanças, de alegrias de um FILHO.
Nada sei da dor do sangue que escorre do meu sangue. Nada sei da dor na carne que desencarna de mim.

(Porque o meu sangue fenece!
Porque o meu ventre é má terra!
Porque toda eu sou incompatível com a inocência, com a ternura, com o amor!)

A minha dor é de outra natureza; talvez por falta de uso, talvez por defeito de fabrico …
A Amélia tem uma memória cheia: cheia do amor de Mãe, cheia do amor do FILHO, cheia das alegrias e dos sonhos de infância, cheia de maternidade.
Fica-lhe, agora, a tristeza de uma marca, ou melhor, de um pedaço seu que não pode mais abraçar, beijar, sorrir, ralhar, chorar, no seu amor vivo e desperto de Mãe.
Mas fica-lhe, todavia, o coração cheio de um FILHO que teve e lhe deixou MEMÒRIA de amor.
Eu ficarei sempre com o coração vazio do filho que não tive e que deixou um buraco na memória do meu (des)amor.
A Amélia conhece a dor da perda de um FILHO.
A Amélia conheceu o amor do nascimento de um FILHO.
Eu não conheço a dor da perda de um filho.
Eu não conheço o amor do nascimento de um filho.
A perda da Amélia é uma dor imensa.
A minha perda… é só uma falha. 
 
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Neste Dia de S. Valentim declaro o meu inteiro amor a todos os filhos que eu não tive.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Apelavam por mim umas atribuladas reflexões imperiosas
de uma tese improvidente da intangibilidade da dignidade humana;
mas eram logo alienadas e violadas pela tua essência orgíaca,
surda às iníquas súplicas da minha essência ansiosa.
 
Ardem os meus lábios nos teus beijos…
Molha a loucura do meu corpo a tua boca…
Cravam no desejo as minhas mãos enconchadas na tua mão…
(Dóis-me tanto, ainda!…)

A minha alma doente de exaltação, febril da rêverie,
ora retesava-se na tensão melancólica da guitarra de Cluster One,
ora entoava o sedutor engano de Puccini, 
(Vieni, vieni… via dall’ anima in pena l’ angoscia paurosa) 
 
Marcam-me a pele as nódoas do amplexo no teu prazer…
Adoça o suor do teu mel a minha língua…
Açoita-me a tua fala de murmúrios obscenos…
Porque me dóis tanto… ainda?...

Ia para o mar, com braçadas fustigantes
na fome e na sede do meu corpo por outras vagas de prazer;
mas logo me gritava o teu corpo de sal e de espuma na crista da onda
e num lip off mareavas-me os sentidos às profundezas da negra tristeza.

E eu não quero que me doas mais.

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Demora-se num dia improvável e num local improvável,
um cálice de brandymel ou um bourgogne de tinto morno,
que emulsionará a poesia que me desvelará, corpo no corpo,
e que eu procuro e que eu quero… (e não me abandono!?…)
 Vem, Poeta, vem! 
E lava-me a loucura ferida do corpo na lavanda balsâmica da tua seiva.
E purifica-me a alma dolorida com o feitiço encriptado no teu poema.  
Que é, agora tua, a hora de com o teu canto representares a deixa
de me libertares do teatro das angústias a alma que ali se enferma.  
 Vem, Poeta, vem! 

 

sábado, 6 de fevereiro de 2016

(Foto: celine)
 
 
comigo falhar falhar
falhar falhar falhar
falhar sempre falhar
falhar falhar falhar
falhar   falhar   tudo